Onde está o seu nirvana? (Parte 1)

No budismo, o Nirvana é o estágio de libertação suprema. E, por conseguinte, de felicidade suprema.


Para atingir o Nirvana é necessário libertar-se do ciclo de nascimentos e renascimentos, chamado de Samsara. Isso é feito libertando-se do DESEJO, do APEGO. Uma pessoa desapegada, sem desejos que a dominem, não cometerá nenhum ato que gere um débito para o seu karma, conseguindo assim libertar-se do ciclo de renascimentos.

Uma das consequências desse raciocínio é que, quando se pensa assim, a morte passa a ser uma libertadora. É morrendo pela última vez, em definitivo, que se atinge a felicidade suprema, que se escapa do Samsara e se atinge o Nirnvana.

Essa filosofia causa uma diferença radical entre o modo de viver no Oriente e no Ocidente. No Oriente, onde o Budismo tem forte influência na na cultura, na arte e na vida em geral, as pessoas encaram a morte com mais naturalidade do que no Ocidente, onde a promessa (irreal e fantasiosa) de "vida eterna" parece seduzir muito mais pessoas.

Não, eu não estou idealizando os orientais. Nenhum ser humano quer morrer. Mas a verdade é que todos vamos morrer. Então, uma vez que não se pode escapar disso, encarar a morte com mais naturalidade, deixar de vê-la como uma inimiga, pode ser algo realmente libertador.

No Ocidente as pessoas colocam o seu Nirvana na vida. Elas desejam a vida acima de tudo e isso, por mais que pareça algo belo, acaba sendo trágico. Porque esse desejo da vida eterna nunca é realizado e isso causa frustração e sofrimento.

E causa escravidão...

Como é que as religiões monoteístas, especialmente as abraâmicas, capturam as mentes das pessoas?

Se você pensou na promessa de uma "vida eterna", acertou!

O Cristianismo promete um paraíso eterno, uma vida que nunca se acaba e que é repleta de satisfações. O Islamismo promete tudo isso e mais setenta e duas virgens para os mártires, aqueles que se deixarem matar em nome da fé.

Justamente porque sua mente escolheu colocar o seu Nirvana na vida, ou seja, no desejo pela vida, você acaba não vivendo plenamente. Acaba tendo a sua mente sequestrada pelos que querem te manipular em nome dessa "vida eterna".

Já reparou que isso é um roteiro?
 

  • Primeiro eu te convenço de que existe uma alma imortal, que sobrevive à morte do seu corpo físico.
  • Depois eu te convenço de que essa alma poderá ter um paraíso eterno ou uma tortura eterna.
  • Depois eu te convenço de que se você seguir certas regras de vida, terá o paraíso eterno garantido e evitará a tortura eterna.
  • Finalmente eu te apresento AS MINHAS REGRAS DE VIDA, entre as quais estão sempre ME OBEDEÇA EM TUDO e ME DÊ DINHEIRO.

Boa parte disso é cultural. Somos educados no Ocidente para sermos assim. Mas nunca é tarde para repensar a vida. Por isso eu quero te convidar a refletir sobre isso.
 

ONDE VOCÊ COLOCA O SEU NIRVANA?

 

Se o seu Nirvana estiver na "vida eterna", cada passo para o futuro será sofrido. A dor do envelhecimento será grande, porque esse processo marca nossa aproximação da morte. Morte essa que você veria como libertadora, se pusesse o seu Nirvana no lugar certo.

Você não controla o tempo de sua vida. E não faz a menor ideia do que acontecerá depois da sua morte. Então, por que se preocupar com isso? Por que não viver simplesmente, deixando de lado tais preocupações?

Se tentar fazer isso, verá que é uma conquista libertadora.

Não estou dizendo que você deva idolatrar a morte ou desejá-la. Mas não deve temê-la e nem fugir dela, ou do seu arauto, o envelhecimento. Deve aprender a conviver com essas coisas naturalmente, como partes que são da vida que todos temos, quer queiramos ou não.


Prof. Dr. Ed de Almeida

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